"São as condições concretas do trabalho na sociedade que forçam o conformismo e não as influências conscientes... a impotência dos trabalhadores não é mero pretexto dos dominantes, mas a conseqüência lógica da sociedade industrial... só os dominados aceitam como necessidade intangível o processo que a cada decreto elevando o nível de vida, aumenta o grau de sua impotência. Agora que uma parte mínima do tempo de trabalho à disposição dos donos da sociedade é suficiente para assegurar a subsistência daqueles que ainda se fazem necessários para o manejo das máquinas, o resto supérfluo, a massa imensa da população, é adestrada como um guarda suplementar do sistema, a serviço de seus planos grandiosos para o presente e o futuro. É sustentada como um exército de desempregados... o absurdo dessa situação... denuncia como obsoleta a razão da sociedade racional".
Adorno T. e Horkheimer M. "Dialética do Esclarecimento".
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Vislumbra-se portanto, o quanto se faz necessário uma pedagogia do movimento... (da criação à superação). Assim, sustentamos que dentro da recursividade de uma pedagogia do movimento, entendo que a consciência é levada à autonomia pela reflexividade objetivadora do intelecto ativo que pavimenta as cisões da realidade constitutiva, a qual o individuo está submetido por força das diversas tensões alienantes. Estas condições alienadoras, não se enquadram dentro de um sentido ilusionista, mas sim, num sentido subjacente, porque enquanto potências transformadoras, também sofrem a ação contraria que tende a ser mutacional ou seja, de exercer uma transformação reversa a si mesma, posto que em seu movimento de potência a ato produz uma possibilidade infinita de ser que a subjaz indefinidamente. Nesse ponto uma pedagogia libertadora deve oferecer uma condição tal que estimule a reflexividade crítica sobre a mecanicidade alienante do momento vivido. Esse movimento dialético deve, como característica principal, permitir o acesso pela consciência ao universal constitutivo da realidade alienante imediata que está condicionando o indivíduo através de uma lógica que perfaz dois movimentos: o de torcer e depois subjazer a realidade vivenciada do oprimido. Nesta linha se dá a importância do educador e filosofo, Paulo Freire, que em suas palavras argumenta:
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“A objetividade dos objetos é constituída na intencionalidade da consciência, mas, paradoxalmente, esta atinge, no objetivado, o que ainda não se objetivou: o objetimável. Portanto, o objeto não é só objeto, é, ao mesmo tempo, problema: o que está em frente, como obstáculo e interrogação. Na dialética constituinte da consciência, em que esta se perfaz na medida em que faz o mundo, a interrogação nunca é pergunta exclusivamente especulativa: no processo de totalização da consciência é sempre provocação que a incita a totalizar-se. O mundo é espetáculo, mas sobretudo convocação. E, como a consciência se constitui necessariamente como consciência do mundo, ela é, pois, simultânea e implicadamente, apresentação e elaboração do mundo. A intencionalidade transcendental da consciência permite-lhe recuar indefinidamente seus horizontes e, dentro deles, ultrapassar os momentos e as situações, que tentam retê-la e enclausurá-la. Liberta pela força de seu impulso transcendentalizante, pode volver reflexivamente sobre tais situações e momentos, para julgá-los e julgar-se Por isto é capaz de crítica. A reflexividade é a raiz da objetivação. Se a consciência se distancia do mundo e o objetiva, é porque sua intencionalidade transcendental a faz reflexiva. Desde o primeiro momento de sua constituição, ao objetivar seu mundo originário, já é virtualmente reflexiva sua presença e distância do mundo: a distância é a condição da presença. Ao distanciar-se do mundo, constituindo-se na objetividade, surpreende-se, ela, em sua subjetividade. Nessa linha de entendimento, reflexão e mundo, subjetividade e objetividade não se separam: opõem-se, implicando-se dialeticamente. A verdadeira reflexão crítica origina-se e dialetiza-se na interioridade da “práxis” constitutiva do mundo humano — é também “práxis".
Paulo Freire - Pedagogia do Oprimido
e ainda...“Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas desmascaradora da ideologia dominante. Neutra, indiferente a qualquer destas hipóteses, a da reprodução da ideologia dominante ou de sua contestação, a educação jamais foi, é, ou pode ser. È um erro decretá-la como tarefa apenas reprodutora da ideologia dominante como erro é tomá-la como uma força de desocultação da realidade, a atuar livremente, sem obstáculos e duras dificuldades.
Pedagogia da Autonomia - P. Freire
WILL G. TORGET 09/09/2007
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