sábado, 29 de agosto de 2015
O PODER DO PENSAMENTO CRÍTICO EM EDUCAÇÃO
Em uma crítica ao amigo e pensador Walter Benjamin, da Escola Crítica de Frankfurt, que anos antes de se suicidar para evitar ser preso pela SS Gestapo alemã, na Segunda Guerra, alegou a possibilidade de utilização da indústria cinematográfica (filmes) para a “desalienação” das massas; Adorno & Horkheimer em sua “Dialética do Esclarecimento” disseram que:
“São as condições concretas do trabalho na sociedade que forçam o conformismo e não as influências conscientes… a impotência dos trabalhadores não é mero pretexto dos dominantes, mas a consequência lógica da sociedade industrial… só os dominados aceitam como necessidade intangível o processo que a cada decreto elevando o nível de vida, aumenta o grau de sua impotência. Agora que uma parte mínima do tempo de trabalho à disposição dos donos da sociedade é suficiente para assegurar a subsistência daqueles que ainda se fazem necessários para o manejo das máquinas, o resto supérfluo, a massa imensa da população, é adestrada como um guarda suplementar do sistema, a serviço de seus planos grandiosos para o presente e o futuro. É sustentada como um exército de desempregados… o absurdo dessa situação… denuncia como obsoleta a razão da sociedade racional”.
Em Adorno (1962), a concepção de “verdade” tão necessária no processo de “esclarecimento das massas”, é ampliada no sentido de que “a verdade é não apenas o que se diz, mas como se diz”, dentro de um movimento em que “a forma é inseparável do conteúdo” (Adorno, 1962 apud Pucci, 2000:24); temos então, que a cultura se apresenta como um “terreno (...) onde se dá a luta pela manutenção ou superação das divisões sociais”; um lócus privilegiado em que o poder co-ativo e deformante atende pelo nome de “indústria cultural” e, busca impor uma “semiformação cultural” que não “se resume numa falsa cultura, algo que vem e que vai, que pode, mais tarde, ser substituído por algo mais avançado, mais perfeito”, mas “trata-se de uma “deformação...que impede, que traz obstáculos à formação...não se trata de uma ilusão, algo que pareça verdadeiro mas que é errado...uma pseudo-cultura” não, em verdade, trata-se de um “processo impeditivo da formação cultural”.
Vislumbra-se, portanto, o quanto se faz necessário um pensamento em movimento, (da criação à superação). Nesse sentido, dentro da recursividade e da complexidade do pensamento (qual uma trama em movimento), a consciência é levada à autonomia pela reflexividade crítica do intelecto ativo que pavimenta as cisões da realidade constitutiva do mundo humano do trabalho, especialmente no que se refere tanto ao “trabalho”, quanto a “ação” humana, nas condições proposta por Hannah Arendt:
“Com a expressão 'vita activa', pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. (...) O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor é a própria vida. O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana (...). O trabalho produz um mundo "artificial" de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. A condição humana do trabalho é a mundanidade. A ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não o Homem vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente 'a' condição (...) de toda a vida política”. A Condição Humana; capitulo I.
Habermas, outro membro da “Escola de Frankfurt”, enveredou por um caminho alternativo, que de certa forma pensava o acesso ao conhecimento (verdade), sua forma de produção e difusão e, buscava entender o processo publico de formação da opinião. Reconheceu que a esfera pública não se confundia com a esfera do Estado e, que não era possível reduzir a esfera pública à realização dos interesses de classe; nesse sentido ele vai pensá-la (esfera pública), como uma categoria histórica da sociedade burguesa, que se formou antes em contraposição ao poder, no interesse de estabelecer um Estado de direito que assegurasse, por lei e sanções, a circulação de mercadorias e o trabalho formalmente livre, sem interferências estatais na dinâmica do mercado. Um público que, devemos alertar, se forma a partir de pessoas privadas, portanto socialmente restrito. Entretanto, esse público de pessoas privadas é um público que lê e discute, por livros e imprensa escrita, em cafés e salões, inicialmente arte e literatura, depois a própria ordem da dominação política.
As bases dessas discussões – igualdade, liberdade, publicidade e inclusão universais – sobre política, direito, filosofia, moral, ética, ciência e arte, serviam (e servem) de critérios para a crítica e a transformação da ordem de dominação. Da própria organização interna da comunicação pública, pressuposta por seus participantes, se tiram os parâmetros da racionalização política e social. Com isso, a ideologia burguesa da “opinião pública” trazia (e traz) consigo a medida de sua própria crítica, tão logo se percebe os descompassos entre as ideias generalistas advogadas e a realidade da sociedade de classes na sequência das revoluções burguesas e mesmo, das contradições nas atuais sociedades de capitalismo tardio.
A partir daquelas revoluções iniciada na Europa pós medieval/modernista, a esfera pública amplia-se grandemente nas chamadas "democracias de massa", onde ela perde drasticamente sua função crítica. De um “público burguês restrito que pensa a cultura se passou a um público de massa amplo que consome cultura”, isto é, os produtos da indústria cultural. O princípio da publicidade crítica é subvertido pela publicidade/propaganda; a opinião pública passa a ser objeto de manipulação tanto dos meios de comunicação de massa como de políticas partidárias e administrativas, orientados por pesquisas de opinião, quer dizer, de manifestações de interesses já privatizados. A partir daí Habermas vai reorientar suas teses anteriores, dadas às experiências políticas e sociais que desmentiram uma total despolitização da esfera pública, a partir dos fenômenos de integração relativa do proletariado ao sistema capitalista. Ou seja, há a constatação de uma série de movimentos sociais diversos que escaparam até certo ponto à capacidade de controle dos meios de comunicação de massa.
Diante dessas expectativas, sempre de valências múltiplas e ambíguas, Habermas teve de repensar a esfera pública com novas categorias (teoria da ação comunicativa). Constitui-se então, a ideia de “sociedade civil”, contraposta ao âmbito do mercado e ao do Estado e, constituída por movimentos, organizações e associações mais ou menos autônomos. Na sociedade civil se originariam então, esferas públicas diversas, que, conforme o caso, generalizam-se através dos meios de comunicação. Nesse processo, as discussões passam a sofrer geralmente um processo seletivo de informações e argumentos, que se coaduna com tentativas de despolitização exigidas pelo sistema político e econômico. Seja como for, o “agir comunicativo”, dentro de um projeto de democracia radical, coloca a perspectiva de uma esfera pública cujo tema seja a própria possibilidade de uma esfera pública não-atravessada por relações de poder.
Concluindo, visto que o indivíduo comum é submetido de forma constante à força das diversas tensões ou correntes alienantes; uma educação critica para um projeto radical desta magnitude, implicaria o exercício de se constituir indivíduos que pensem à partir de uma dialogicidade critica; haja vista, que simplesmente o ato de pensar na forma linear cartesiana, não mais daria conta da realidade a nossa volta; sendo necessário um modelo desfragmentador contido nas condições proposta pelo “agir comunicativo” habermasiano, sob pena da não compreensão da esfera público/privada da vida em sociedade, que “ultima ratio”, decidi e constitui tudo dentro das sociedades de capitalismo tardio como a nossa.
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